Tu és o sótão e eu o porão.
Tu és a cumeeira e eu o alicerce oculto.
Tu és a parte exposta do iceberg.
Eu sou a metade submersa,
Tu és o zênite e eu o nadir.
Tu és a cara da moeda e eu a coroa,
Eu te conheço porque és a outra parte de mim,
Tu me conheces porque sou a outra parte de ti.
Para que possas ser a metade exposta
É preciso que eu seja a metade implícita
Para que possas declinar versos angelicais
É preciso que eu derrame versos abismais
Eu não minto e nem tu mentes jamais
Escolhes falar da luz por opção
Escolho rasgar abismos por oposição.
Caminhamos paradoxalmente na mesma direção
Para que possas suportar-te na cumeeira
Faço-me a base segura e obscura do teu altar
E nesta junção milenar
Somos qual duas linhas paralelas
Fadadas a andar lado a lado
Sem jamais poder se encontrar.