Não sei se os pássaros trazem consigo memórias dos voos que fizeram nem se os campos se vestem propositadamente de flores para receber as borboletas. Não sei se as estrelas contam as luas pelos dedos ou se o perfume que o verão usa é o da roupa que seca ao sol. Não sei se a água canta nas fontes porque aprendeu com as raparigas de bilhas à cabeça nem se o vento se põe à lareira para aquecer os pés depois de rodar as velas dos moinhos. Não sei se toda a gente gosta de cadeiras de baloiço como eu ou das flores de cera a guardar a entrada das casas com portas de madeira. Não sei se os piratas gostam do gelado Perna de Pau ou se todos têm um papagaio que repete o ombro do capitão como se pousasse numa árvore antiga e familiar. Não sei. Não sei se as sereias usam as pérolas para jogar ao berlinde ou se os caranguejos andam de lado porque foram pintados nas paredes das pirâmides e pensam estar a caminho de casa. Não sei. Só sei que dentro do que se vê fica aquilo que se imagina e que dentro de cada avó está o seu tempo de menina. Conta, conta, avó, conta aquela história baixinho.