Ensina-nos, Senhor, a rezar este vazio.
"O vazio trazido por um medo que não conheciÌamos e que parece agora um inquilino da nossa alma.
O vazio dos espaços confinados.
O vazio da vida, de repente, em suspenso.
O vazio das incertezas que se amontoam e das quais ainda não falamos.
O vazio dos olhos dos que vemos sofrer e o vazio dos muitos que sofrem sem que noÌs os vejamos.
O vazio dos cuidadores ao final de turnos extenuantes.
O vazio dos que tiveram de continuar expostos, dia a dia, para que outros ficassem a salvo.
O vazio de tudo aquilo que, de um momento para o outro, ficou adiado.
O vazio daquela mulher idosa que passa o dia com o rosto encostado à janela.
O vazio das ruas donde nos chega um sileÌ‚ncio que não eÌ um sileÌ‚ncio, mas uma espeÌcie de ação de despejo da vida quotidiana.
O vazio dos encontros e das conversas.
O vazio que os amigos pressentem.
O vazio das risadas.
O vazio de todos os ABRAÇOS não dados."
(José Tolentino Mendonça)