A dúvida é um sÃtio feio.
Não tem chão, nem tecto, nem cheiro. Só um ar pesado, espesso, que se cola à pele e não deixa respirar direito. A dúvida não morde, mastiga devagar.
Há quem diga que a dúvida faz crescer. Mentira.
A dúvida não faz crescer, faz rodar. É um carrossel sem música, sem fim, que nos deixa tontos de tanto pensar.
Eu gosto do que existe.
Do que se pode tocar.
Do sim e do não.
Do bom e do que custa.
Não gosto do “talvezâ€.
O “talvez†é um limbo com cortinas abertas:
vês tudo, mas não podes entrar.
A dúvida é o inferno disfarçado de hipótese.
É o amor à espera de resposta.
É o corpo parado com o coração aos gritos.
Prefiro o erro.
Prefiro o tropeço, a certeza que se parte, o amor que se gasta mas foi real. Prefiro o que dói mas existe, ao que promete mas nunca chega.
Prefiro o frio verdadeiro de uma ausência, ao calor inventado de uma presença que não sei se é.
A dúvida é a cama desfeita de quem não dorme.
O copo meio cheio que não mata a sede.
O espelho que mostra tudo menos o essencial.
E eu, que não sou boa com dúvidas, só quero o que é. Mesmo que seja pouco. Mesmo que seja torto. Mesmo que doa. Porque o que é, mesmo imperfeito, ainda é chão. E o chão, mesmo duro, ás vezes chega.
— Saudavelmentelouca, Anjos sem Asas

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