Não sou feita desse ferro que não se desgasta!
Não tenho as garras afiadas de uma fera, nem respiro fogo como um dragão.
Sou esta mulher que já engoliu muitos sapos e que tantas vezes virou as costas à realidade. Sofri para não magoar, curei dores que não me pertenciam e esqueci-me de tratar dos meus males. Cresci ao som das tristezas e os sonhos para mim foram companheiros de lágrimas, que me habituei a educar. Fiz desse mar de lágrimas o mar revolto onde nem sempre soube navegar!
A vida nem sempre me deu doces, demasiadas vezes me presenteou com limões amargos. Por isso, eu aprendi a sofrer e fui bebendo desse veneno que não me conseguiu derrubar.
Não sou forte o tempo todo, sou mais frágil do que pensas. Sou feitas de todas estas fragilidades, desses retalhos que fui costurando durante toda a vida, para resistir ao frio da tempestade que soprou, mas nem assim me derrotou.
Eu não sou forte, mas a fragilidade de existir fez de mim uma guerreira. Lutei, quando já não tinha forças e encontrei nas lágrimas a arma certa para combater e apagar as barreiras que encontrei pelo caminho. Desistir foi uma palavra que risquei do dicionário. No entanto, as palavras sempre foram o cobertor que me aqueceu nas longas noites, em que a insónia me atormentou e sem sono viajei por sonhos, que julguei distantes de mim.
Sou hoje esta menina crescida, a quem a vida devolveu alguns sonhos que encontrou perdidos, pelos recantos escuros, onde tantas vezes chorei, sem que me vissem.
Sou hoje a princesa [ainda sem trono] a quem o amor entregou tudo o que nesses sonhos encontrou, dizendo-lhe que aproveitasse cada minuto como se fosse o último.
Sou a mulher atrevida, que já sem medo decidiu que o futuro estava ali à sua frente para ser vivido. A mulher que resolveu começar a viver de costa viradas para o passado e de peito voltado para o horizonte onde o sol começava a despertar. A mulher a quem a ousadia fez cócegas e que dessa forma despertou para a magia de viver tudo o que merecia.
Por isso, lembra-te, que somos o que vida quis fazer de nós. Somos o que resta dos nossos sonhos, e ao mesmo tempo, vivemos pelos sonhos que ainda temos para construir.
Não te esqueças nunca, que sai de mim para te começar a amar a ti e de que me encontrei no dia em que nos perdemos um pelo outro. Sozinhos nunca fomos nada, mas juntos seremos tudo o que
quisermos sonhar.
@angela caboz