Quando sua face se refletir
no espelho d’água
irá vê-la límpida,
refletindo seus claros sentimentos.
Verá que a luz dos seus olhos
roubará o brilho d’água.
Água e mulher, um único ser,
a fonte, a nascente, a origem.
O néctar, a essência rara
que habita a lembrança.
Sua presença será leve,
como se seu corpo não tivesse peso.
Caminhará suave como o veleiro
a deslizar em mar calmo.
Será as flores da primavera,
as brisas do outono.
O sol do verão. O silêncio do inverno.
Essência da vida,
a pulsar de seu suave coração,
que em sua batida rítmica
haverá de encantar.
Por isso haverá de gerar,
de constituir-se em nascimento
e crescer sob o calor do seu olhar.
Energia plena que emoldura o mundo .
Poderei observá-la em silêncio
e lhe desejarei com pudor.
E você se encantará
com meu olhar de menino.
E espreitará repousar
no ninho de meu coração.
Ali, então, fará morada.
Ali será seu abrigo seguro,
seu pedacinho do mundo
e o seu todo.
E então se fará deusa,
mito unitário de si,
para ser adorada pela fé
que tenho em mim.
E será minha fonte
de água pura,
líquido a saciar
e fertilizar o meu deserto.
E lhe mostrarei ser menino,
mas maduro.
E então, para minha surpresa,
também lhe reconhecerei criança,
pois a mulher parece
guardar a juventude,
parece ocultar o segredo
de amar a vida.
Tem em seu ser algo
que promete eternidade,
e nisto não me apego
se é sonho ou ilusão,
sei que fecho os olhos,
que guardo a sua imagem,
que me encanto
com sua feminilidade.
E que, nesse instante,
sou plenamente feliz.