A solidão é perfeita como um rasgo entre as nuvens, ao último sonho. A solidão que se cala em teu fundo e vai envelhecendo na terra perdida do som descompassado. Te guardas na intimidade dos armários, onde a paz é negra e se desagrega a luz. Nunca foste mais do que uma ficção, matriz de riso e sombra, um poço verde, teorema de ilusões, engrenagem de poentes roxos. E, agora, frouxo, já nada designas ou desenhas. És, apenas, testemunha efémera e longínqua, trovão engolido de Deus, fingidor ferido de doces cantos, mentira
precária nas cordas de uma harpa febril.
Orlando Neves
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