Em uma pausa no treino de domingo da seleção brasileira no centro de treinamento do Slasz Wroclaw, Kaká aproximou-se do alambrado, sobre o qual dezenas de crianças de uma escolinha de futebol local estavam debruçadas e de maneira ininterrupta pediam a atenção dos jogadores. Durante pelo menos 10 minutos assinou uma infinidade de itens, de bolas a folhetos promocionais do amistoso contra o Japão.

Momentos depois, a ficha caiu no resto do time, que estava se refrescando no centro do gramado. Neymar fez sua sessão apenas no final do treino e após uma rápida entrevista coletiva cujas respostas pareciam ainda mais ensaiadas que o normal. Se hoje o jogador do Santos é a grande referência do futebol brasileiro, sobretudo em termos comerciais, a excursão da seleção brasileira por Suécia e Polônia está mostrando que mesmo o declínio comercial de Kaká parece não ter feito estragos em seu carisma.

Sem aparições regulares nos campos do mundo por conta das dificuldades de encontrar um lugar mais cativo no time titular do Real Madrid e fazendo pela seleção seus primeiros dois jogos desde o verão europeu de 2010, o meia viu o interesse de empresas rarear. Ele até conta com patrocinadores invejáveis (a empresa de material esportivo Adidas e a multinacional do ramo de cosméticos Proctor and Gamble), mas numa comparação direta com Neymar, a diferença é uma goleada a favor do atacante do Santos graças à legião de marcas a ele associadas - Neymar hoje faz propaganda de meias a carros de luxo.

Porém, talvez pela diferença de idade e vivência (dez anos separam os dois companheiros de seleção, um período em que também devem ser levados em conta a quase década que o ex-jogador de São Paulo e Milan passou no exterior), Kaká se sobressai no que em inglês é conhecido como a "habilidade de se trabalhar um salão".

Como ""embaixador"" do futebol brasileiro, ele ocupa um espaço em que Neymar ainda não se sente à vontade na seleção. O maior exemplo talvez seja o comportamento dos dois no lobby do hotel da seleção em Wroclaw. Enquanto Kaká foi visto frequentemente numa postura mais relaxada, fazendo inclusive piada com os jornalistas acampados no saguão e assinando um autógrafo ou outro, Neymar teve uma postura bem mais arredia, isolando-se sempre que possível em algum sofá mais afastado ao lado do pai e de um assessor particular.  De gerações diferentes, é bastante normal que os dois jogadores tenham situações diversas no mundo virtual. A surpresa é que Neymar, mais jovem e bem mais ativo na rede, seja superado categoricamente em termos de seguidores no Twitter por exemplo.

‘’Dono’’ de mais de 13 milhões fãs, Kaká só perde para o companheiro de Real Madrid Cristiano Ronaldo na categoria de esportistas mais seguidos na ferramenta de mídia social. Neymar conta com cerca de 5,4 milhões. ‘’Isso é o que muita gente não leva em conta quando imediatamente enterra o Kaká ao falar de apelo comercial. Ele pode não estar jogando, mas ainda comanda uma admiração fabulosa ao redor do mundo. Ele é mais que um garoto-propaganda’’, disse ao UOL Esporte um executivo brasileiro da área de markting esportivo, que preferiu o anonimato.