SOL POSTO
© Florbela Espanca
Sol posto. O sino ao longe dá Trindades
Nas ravinas do monte andam cantando
As cigarras dolentes… E saudades
Nos atalhos parecem dormitando…
É esta a hora em que a suave imagem
Do bem que já foi nosso nos tortura
O coração no peito, em que a paisagem
Nos faz chorar de dor e d’amargura…
É a hora também em que cantando
As andorinhas vão p’lo meio das ruas
Para os ninhos, contentes, chilreando…
Quem me dera também, amor, que fosse
Esta a hora de todas a mais doce
Em que eu unisse as minhas mãos às tuas!…
© Florbela Espanca -
Trocando olhares - 29/07/1916
BALADA
© Florbela Espanca
Amei-te muito, e eu creio que me quiseste
Também por um instante nesse dia
Em que tão docemente me disseste
Que amavas ‘ma mulher que o não sabia.
Amei-te muito, muito!Tão risonho
Aquele dia foi, aquela tarde!…
E morreu como morre todo o sonho
Deixando atrás de si só a saudade! …
E na taça do amor, a ambrosia
Da quimera bebi aquele dia
A tragos bons, profundos, a cantar…
O meu sonho morreu… Que desgraçada!
E como o rei de Thule da balada
Deitei também a minha taça ao mar …
© Florbela Espanca
Trocando olhares -
08/08/1916
♬♪♥★ Vi®gini@ Lim@ ★♥♪♬
Copyright © 2005-2007