Sinopse:
"Construído ao longo de 3 anos, conta a epopéia sertaneja de
Canudos, no percurso de 180 cidades e povoados de Ceará, Pernambuco,
Sergipe e Bahia. O vídeo reúne raros depoimentos de parentes de
Conselheiro, contemporâneos da guerra, filhos de líderes guerrilheiros,
historiadores, religiosos e militares."
A Guerra de Canudos durou um ano e mobilizou mais de 10 mil soldados oriundos de 17 estados brasileiros e distribuídos em 4 expedições militares. Estima-se que morreram mais de 25 mil pessoas, culminando com a destruição total da cidade.
A COVARDIA E A "FALTA DE PALAVRA".
Em 02 de Outubro de 1897 Em meio a guerra, surge por entre as ruínas Antônio Beatinho com uma bandeira branca.
Queria falar com o general comandante e disse que lá dentro ninguém agüentava mais, a fome e a sede estavam acabando com todos. Pede pra que pudessem sair em paz. Artur Oscar lhe disse que voltasse lá e trouxesse os homens para se entregarem que ele lhes garantia a vida. Beatinho volta ao Arraial e pouco depois reaparece com um grupo de 300 pessoas: eram mulheres, crianças, e inválidos de guerra, maltrapilhos e doentes. Afirma que todos os homens restantes haviam rechaçado sua proposta de rendição e iriam lutar ate o fim.
No dia seguinte a rendição, Antônio Beatinho é degolado junto com seus companheiros que se entregaram confiando na palavra do General Artur Oscar em lhes garantir a vida. A degola dos prisioneiros era a consumação final do massacre. Mas esta prática não era nova na campanha. Desde Agosto que os jornalistas relatavam casos praticados de forma discreta na calada da noite. Agora, nos últimos dias da guerra, a "gravata vermelha" como também era chamada a degola, foi larga e amplamente utilizada sem cerimônias, em plena luz do dia.
O QUE TEM DE POLÍTICO DE PALAVRA IGUAL AO MESMO GENERAL.
LIXO SOCIAL, SEM FALAR DA CORRUPÇÃO.
Alvim Horcades escreveu: "eu vi e assisti a sacrificar-se todos aqueles miseráveis
e com sinceridade o digo: em Canudos foram degolados quase todos os prisioneiros
levar-se homens de braços atados para trás como criminosos de lesa-majestade,
indefesos e perto mesmo de seus companheiros, para maior escárnio,
levantar-se pelo nariz a cabeça, como se fora o de uma ave,
e cortar com o assassino ferro o pescoço, deixando a cabeça cair sobre o solo
é o cumulo do banditismo praticado a sangue-frio
Assassinar-se uma mulher pelo simples fato de ser o seu companheiro conivente
com o que se dava - é o auge da miséria!
Arrancar-se a vida a uma criancinha é o maior dos barbarismos e dos crimes
que o homem pode praticar". (Horcades, 1899)
Em 05 de Outubro de 1897 ermina a resistência sertaneja, Canudos estava destruída. Num cenário de fim de mundo, por entre becos e ruelas, uma legião de corpos carbonizados se misturam com as ruínas e as cinzas das 5.200 casas. A elite política, acadêmica e militar do pais estava em êxtase. Os deputados federais da Bahia congratulam-se com o governo pela "completa destruição de Canudos, baluarte de bandidos e fanáticos" e o próprio Presidente da República, Prudente de Moraes, declara: "em Canudos não ficará pedra sobre pedra". Enfim os generais cumpriram o prometido, pois queriam que ali se plantasse a solidão e a morte.
Estima-se que mais de 25 mil conselheiristas morreram no conflito que mobilizou um contingente superior a 12 mil soldados do Exército (mais da metade de todo o efetivo nacional), na maior guerra de guerrilhas que o Brasil já viveu.
Numa preciosidade do pensamento dominante, O Barão de Studart escreve: "Para esse fim houve recurso aos meio mais desumanos, que não convêm registrar a bem dos nossos foros de nação civilizada e cristã".
Páginas negras da história de nosso povo.
Bom domingo.
Guto Lopes