Adeus, Alma Querida
Se, no caminho do teu saara, encontrares uma alma que te queira bem, aceita em silêncio o suave ardor da sua benquerença - mas não lhe peças coisa alguma, não exijas, não reclames nada do ente querido.
Recebe com amor o que com amor te é dado - e continua a servir com perfeita humildade e despretensão.
Quando mais querida te for uma alma, tanto menos a explores, tanto mais lhe serve, sem nada esperar em retribuição.
No dia e na hora em que uma alma impuser a outra alma um dever, uma obrigação, começa a agonia do amor, da amizade.
Só num clima de absoluta espontaneidade pode viver esta plantinha delicada.
E quando então essa alma que te foi querida se afastar de ti - não a retenhas.
Deixa que se vá em plena liberdade.
Faze acompanhá-la dos anjos tutelares das tuas preces e saudades, para que em níveas asas a envolvam e de todo mal a defendam - mas não lhes peças que fique contigo.
Mais amiga te será ela, em espotânea liberdade, longe de ti - do que em forçada escravidão perto de ti.
Deixa que ela siga seus caminhos - ainda que esses caminhos a conduzam aos confins do universo, à mais extrema distância do teu habitáculo corpóreo.
Se entre essa alma e a tua existir afinidade espiritual, não há distância, não há em todo o universo espaço bastante grande que de ti possa alhear essa alma.
Ainda que ela erguesse vôo e fixasse o seu tabernáculo para além das últimas praias do Sírio, para além das derradeiras fosforecências da Via-Láctea, para além das mais longínquas nebulosas de mundos em formação - contigo estaria essa alma querida...
Mas, se não vigorar afinidade espiritual entre ti e ela, poderá essa alma viver contigo sob o mesmo teto e contigo sentar-se à mesma mesa - não será tua, nem haverá entre vós verdadeira união e felicidade.
Para o espírito a proximidade espiritual é tudo - a distância material não é nada.
Compreende, ó homem - e vai para onde quiseres!
Ama - e estarás sempre perto do ente amado...
Em todo o universo...
Dentro de ti mesmo...
by: Huberto Rohden
Gilly