Quando o sol ainda não havia cessado o brilho,
Quando a tarde engolia aos poucos as cores do dia,
E despejava sobre a terra,
Os primeiros retalhos de sombra.
Eu vi que Deus veio a sentar-se,
Perto do fogão de lenha da minha casa,
Chegou sem alarde, retirou o chapéu da cabeça,
E buscou um copo de água num pote de barro.
Que ficava num lugar de sombra constante,
Ele tinha feições de homem feliz, realizado,
Parecia imerso na alegria que é própria,
De quem cumpriu a sina do dia.
E que agora, recolhe a alegria cotidiana que lhe cabe,
Eu o olhava e pensava,
Como é bom ter Deus dentro de casa,
Como é bom viver essa hora da vida.
Em que tenho direito de ter um Deus só pra mim,
Cair nos seus braços, bagunçar-lhe os cabelos,
Puxar a caneta do seu bolso,
E pedir que ele desenhasse um relógio bem bonito no meu braço.
Mas aquele homem não era Deus,
Aquele homem era meu pai,
E foi assim que eu descobri,
Que o meu pai com o seu jeito finito de ser Deus,
Revela-me Deus com seu jeito infinito de ser homem.