Maysa faria hoje 70 anos, se não tivesse saído de cena em acidente de carro na ponte Rio-Niterói, em 22 de janeiro de 1977.
Maysa Figueira Monjardim - este era seu nome de batismo - merecia mais. Sua discografia foi reeditada em CD de forma dispersa e, pior, ainda guarda títulos inéditos no formato digital. Situação que poderá mudar - quem sabe? - em 2007, com o lançamento de biografia da cantora pela Editora Globo.
Nascida no Rio de Janeiro, criou-se em Vitória (ES) e, mais tarde, foi morar em São Paulo, onde se casou com André Matarazzo e virou Maysa Figueira Monjardim Matarazzo. Foi com esse pomposo nome - artisticamente abreviado para Maysa - que a dama da sociedade paulista se iniciou na carreira musical contra a vontade do marido. Tinha 20 anos quando, em 1956, gravou seu primeiro LP, Convite para Ouvir Maysa, pela RGE. No repertório autoral, que já revelava os traços melancólicos de sua compositora, havia músicas como Tarde Triste (regravada por Nana Caymmi em 2001 para a trilha da novela O Clone) e Resposta (incluída por Maria Bethânia no show A Cena Muda, em 1974, e posteriormente no roteiro do show A Força que Nunca Seca como sutil recado aos críticos que a atacaram pela gravação de É o Amor no CD homônimo). Nenhuma das duas, no entanto, alcançaria o sucesso de Ouça, o samba-canção e 1957 que até hoje identifica a música de Maysa no imaginário popular. Com o êxito de Ouça, a cantora ajudou a então iniciante RGE a se firmar no mercado fonográfico da época (hoje extinta, a RGE teve seu acervo incorporado ao da gravadora Som Livre).
Além de inspirada compositora, Maysa foi intérprete intensa. Tinha uma bela voz, mas era do time de intérpretes que cantava com o coração. E o canto desse coração era fluente em inglês e em francês. Gravou em vários idiomas com êxito, mas foi com o repertório nacional - formado por muitas músicas de Tom Jobim, entre elas Demais, o tema que seria a mais perfeita tradução da intensidade de Maysa - que fez mais sucesso e que pôde mostrar para o grande público toda sua força de intérprete.
Maysa (na foto, clicada por Antonio Guerreiro para a capa de um disco) gravou muito nos anos 50 e, no início dos 60, incursionou pela Bossa Nova com o disco O Barquinho, arranjado por Roberto Menescal e Luiz Eça. Mas nunca abandonaria os temas passionais. A ponto de, no Brasil, o clássico francês Ne me Quittes Pas ser mais associado a ela do que a Nina Simone (sua gravação voltaria ao mercado como tema de abertura da minissérie Presença de Anita). Seu último disco saiu em 1974, com o sucesso Bloco da Solidão, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia, dupla de compositores que fazia muito sucesso na época. Até no derradeiro hit havia a melancolia que permeou a obra e o canto de Maysa. E que a fez grande. Intensa. Demais.
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