No meu mundo há bruxas sim!
E elas sobrevivem muito abaixo dessa crosta de aparências bizarras, tão frágil quanto esmagadora...
Sobrevivem onde sopram os ventos divinos...espiralando e circulando...e em meio à eles, elas dançam!
E é nas profundezas de tudo que há onde ainda conseguem respirar.
No meu mundo as bruxas vão bem além das vassouras, dos chapéus pontudos e do ar cinematográfico...
Humana bruxa!
E curiosas, se misturarem às massas, pulando fora das lendas, conectando-se às gentes, impregnando-se dos cheiros e gostos, sorvendo pensamentos e sentimentos, somando-se às misturas e culturas...à vida, sem subterfúgios...
Sem medos!
Pois o velho caldeirão fumega dentro dela, esse sim, persiste! Dele fazem questão! E é a essência delas.
É o que as faz o que são...
Caldeirão que exala feitiços de destemor, impelindo-as a enredar-se às fibras de todas as vidas...
E produzir encantamentos que sem distinção, a todos faça bem!
É o trabalho incansável das bruxas do mundo de onde venho...
Mundo, no qual tais criaturas são populares, trabalham com as mãos, carregam peso, embalam as crias, nuas de tabus seduzem almas, vivem amores e padecem de ocultas dores...
Dores do cosmos inteiro...
Irresistível bruxa!
Lutando em batalhas que parecem nunca ter fim...
Exigindo respeito, guerreando por seus direitos, lado a lado...com seus irmãos e irmãs...
Contra as forças dos que as querem mortas e enterradas!
Ainda! Ainda queimadas e enforcadas, ainda caladas, ainda intimidadas, ainda objetificadas, em pleno século XXI, em plena Nova Era...
Ainda resignadas, escravas de lixo e de luxo.
Servis e submissas. Boas meninas! Comportadas!
Senão...quem as vai querer?
Forças hipócritas... que se mascaram de puras...
Sequiosas de em tudo semear o fel da amargura!
Transgressora bruxa!
No meu mundo, elas conhecem muito bem os seus poderes...
E é em prol do coletivo, que cada um desses poderes se agiganta...
Porque bruxa que é bruxa não perde tempo disputando umas com as outras...quem pode mais? Quem aparece mais? Quem brilha mais?
Hã?
Não... no meu mundo elas se amam e se protegem, lúcidas! Seguras! Livres!
Companheira bruxa!
No meu mundo, bruxa de fato não vende o seu legado...
Não tem dinheiro nenhum que o compre!
Mas o compartilha...cheia de graça...
Presenteia a vida com o melhor de si, honrada!
Banhada e perfumada em afeto, oferta de graça o coração...
A quem quer que amor precise.
Incômoda bruxa!
Que perto de si não admite fome, fome de coisa nenhuma...é farta!
Perto dela, ninguém é sozinho, não tem órfão, nem viúva, perto dela, é sempre lar...
No meu mundo bruxa é mãe. Mas mãe de todos, mãe de asa grande...
De seios acolhedores...
Mãe bendita e generosa!
Nem que de seu próprio ventre nunca tenha florido nenhuma rosa...
E daí?
Mãe é bem de espírito...e por isso...
No meu mundo as bruxas rezam!
Rezam baixinho, rezam alto, rezam de joelhos, de cócoras, rezam dia e noite...
Rezam rindo, rezam chorando, rezam vivendo e rezam morrendo...
Enquanto cuidam de suas coisas, e das de todo mundo, porque essa é sua sina...
Sagrada bruxa!
No meu mundo, bruxa é a mulher que ensina.
Independente se é velha, moça ou menina...
Depende só se traz consigo aquela inquietação.
Aquela agonia que dentro da gente faz eterno turbilhão...
Um desassossego, sem precedentes.
Parece que tem um bicho...
Uivando dentro da gente...
Sem aceitar, sem entender, sem permitir...
Sem aguentar, que o grito de quem quer que seja, ecoe por aí indiferente.
No meu mundo, bruxa é mulher perseguida...
Sou eu, você e ela. Aquela, a outra, e a de saia amarela...
Somos nós, as oprimidas, as desvalidas, as violentadas, as agredidas, as escondidas, as malvistas e as malfaladas...
E as curiosas. As indomáveis. As ávidas pelo oculto, pelo que transgride, as de língua afiada!
Despudoradas de alma...
Incapazes de se saciar com mentiras...
Impossíveis de calar diante do absurdo.
Maldita bruxa!
No meu mundo, é bruxa sim, toda e qualquer que em algum momento nessa vida, se entendeu parte do todo...
Se percebeu um fragmento de estrela, uma gota de chuva, um pio na escuridão...
É sim senhora, não fuja disso não!
Pois já desceu ao fundo do poço...
Não tem mais jeito...
Triste de ti mulher, que um dia se viu resumida a um soluço de compaixão...
Triste de ti, que se viu traduzida em emoção...
Triste de ti, que se pegou decifrada em paixão...
E virada e revirada em cólicas de empatia...
Trespassada pelo amor. Meio Deus, meio Deusa, Tudo...ou Nada.
Exaltada e decaída, ao mesmo tempo.
Anjo e demônio...
Não tem mais jeito bruxa...
E tô te elogiando mulher! Vem, vamos dividir a carga uma com a outra...
O meu mundo, é o mesmo teu.
E a esse mundo de insanidade e encanto...
Bem vinda, bruxa!
BLESSED BE!
Gi Stadnicki.
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